Onde estamos errando

Omissões das famílias e precariedade da rede prejudicam a proteção às vítimas

Marilice Daronco e Lizie Antonello

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A morte do santa-mariense Bernardo Boldrini, 11 anos, que foi vítima de agressões psicológicas e físicas e acabou morto, mesmo tendo pedido ajuda à polícia e à Justiça, expôs a fragilidade do sistema que deveria tê-lo protegido. Apesar de o caso não ter acontecido em Santa Maria, fez com que algumas medidas que eram adotadas pela rede de proteção - que envolve Polícia Civil, conselhos tutelares, centros de referência em assistência social, Ministério Público e Justiça - fossem repensadas.

Ainda assim, o sistema não é à prova de erros. Tanto que ainda há crianças vítimas de violência, e os especialistas afirmam que muitos abusadores jamais serão identificados. Mas, afinal, onde estamos errando? Esse é o tema da quinta e última reportagem da série Filhos da violência. 
- Tivemos vários casos ao longo do ano. Principalmente no que diz respeito a abusos sexuais. Um dos fatores mais difíceis de lidar são as mães que protegem os padrastos violentadores. Fazemos tudo o que podemos, mas, em alguns casos, a palavra da mãe derruba qualquer outro argumento - diz o delegado de Santiago João Carlos Brum Vaz.

A promotora Ivanise Jann de Jesus lamenta que, para muitas pessoas, a violência ainda é, erroneamente, usada como uma forma de educar. De acordo com ela, o pior é que, muitas vezes, a violência encontra abrigo na própria família.
- Só acontece violência intrafamiliar porque tem alguém protegendo ou propiciando que isso aconteça. O fato de a família se omitir ou permitir que isso aconteça é um dos maiores entraves. A família é a instituição que mais deveria proteger a criança e o adolescente. Nem polícia, nem Conselho Tutelar tem o poder de proteger como a família tem - argumenta a promotora.

Mas as falhas não estão apenas nas famílias. Nem em suas omissões. Segundo Ivanise, seriam necessários mais profissionais e maior capacitação deles:
- A rede funciona, mas, às vezes, tem falhas. Ela não é totalmente efetiva, precisa de mais profissionais capacitados. O número de profissionais é insuficiente e é preciso mais capacitação, porque são situações que abalam bastante as pessoas que trabalham com isso.

Para o psicólogo André Assunção, também é importante garantir que, após identificada a vítima, ela tenha o tratamento adequado:
- Geralmente, a pessoa agredida ou abusada carrega uma culpa que se transforma em ansiedade ou em transtorno de pânico ou depressão. Não existe como apagar da memória, existe como trabalhar ou aprender a lidar com isso dentro das capacidades de cada um.

O papel da intermediação é essencial

Casos como o da morte do menino Bernardo Boldrini emocionam, revoltam, chocam. E não é para menos, pois, quando uma criança como Bernardo é assassinada, morre junto com ela parte da esperança que cada um de nós tem de que as crianças tenham direito a uma infância feliz e a um crescimento saudável. Um direito que está estampado na lei, mas muito diferente da prática que vivem inúmeros pequeninos.
Mesmo com algumas fragilidades, o promotor de Justiça Joel Dutra ressalta a importância da rede:
- Se não fosse a intermediação da rede, entre a vítima e o Poder Judiciário, muitos casos que temos hoje talvez nem viessem até nós, porque é muito frágil a prova, depende muito do relato da vítima. No momento que a vítima retroceder, isso não chega no Poder Judiciário - diz o promotor.

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Falta de estrutura é um entrave

Quem precisa lidar diariamente com as situações de violência contra crianças sente na pele a dificuldade de ter o mínimo e precisar fazer o máximo em prol delas.
- Trabalhamos com uma estrutura mínima: um carro, telefone, computador, cinco conselheiros, sem sistema informatiza"

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